domingo, 28 de junho de 2009

Casos provincianos

No longínquo fevereiro de 75, numa sexta feira de carnaval, Geraldo entra na fábrica de tecidos para uma jornada de trabalho das 13 às 22 horas. Estava decepcionado de ter de ir trabalhar num carnaval de Deus. Sabia que às 23, quando conseguiria chegar à folia já estaria no final da festa na rua. Era a hora que os foliões com dinheiro se recolhiam aos bailes de salão; como não era ocaso dele ser um desses foliões...

Caminhando pelo corredor de entrada da fábrica, Geraldo ia pensando em como conseguir burlar o trabalho para cair na folia. De longe avistou o encarregado de sua área e foi logo se achegando para ver o que ele podia fazer.

– Bom dia sêo Valdemar!

– Bom dia Geraldo! Você me cumprimentando com tanto entusiasmo, aposto que está querendo alguma coisa...

– Te confesso: preciso de uma licença de 5 dias.

– O que foi dessa vez? Seu avô paterno morreu novamente?

– Quê isso, sêo Valdemar, não sou sujeito de mentiras! É que preciso fazer uma viagem à capital, com urgência.

– Te dou os cinco dias, mas depois do carnaval, pois precisamos de você aqui estes dias.

– Aí já não vou precisar...

– O que você quer é uma folga no carnaval, não é? Muito bonito...

Geraldo deu uma risada concordante com o que sêo Valdemar dizia. Depois de bater o cartão, foi se adentrando mais e chegou onde estavam algumas mulheres que lá trabalhavam.

– Como vai Carminha?! Ei, Lurdinha! Ei todas as inhas! – disse Geraldo.

– Lá vem ele cheio de graça. – disse Carminha, que ajeitava os cabelos para proteje-los das engrenagens da máquina.

– Carminha, meu amor, o que você vai fazer nos próximos cinco dias?, perguntou Geraldo, com seu jeito brincalhão.

– O mesmo que você.

– Então vamos curtir o carnaval juntos? Que maravilha!

– Acorda, Geraldo! Tenho família para criar: o que vamos fazer é trabalhar. A não ser que você agora deu para ser burguêz e vai no baile do clube depois do expediente. Mesmo assim não posso ir...

– Você acha mesmo que eu vou trabalhar durante o carnaval? O mundo na folia e eu aqui me matando?

Foram para o trabalho pois já passava da hora para se começar a atividades. Geraldo trabalhou durante algumas horas, sempre matutando um plano para salvar seu carnaval – pois carnaval é uma vez por ano! Quase se acidentou certo momento por causa da distração. Por volta das 17 horas, lembrou-se subtamente de que outro encarregado, sêo Chiquinho, havia dito certa vez que o dia em que alquém se atrevesse a chamá-lo por seu apelido, tomaria uma suspensão de no mínimo uma semana.

– É disso que preciso! – disse Geraldo consigo.

Ele foi então atrás do homem que resolveria sua situação. Quando Geraldo o viu , ele estava importunando algum funcionário por agum motivo besta. É hoje que ele solta fogo pelas ventas, pensou Geraldo. Deixou que sêo Chiquinho acabasse de falar as suas ao funcionário circunspecto e se aproximou com aquela cara só sua. Deu uma batidinha amigável com a mão nas costa do Chiquinho.

– Como vai, sêo Chiquinho ‘Poucas Pregas’?! – disse Geraldo, num tom um pouco irônico, um pouco sério, como um exímio sofista.

Chiquinho ficou vermelho feito um peru. Saiu, como Geraldo previra, soltando fogo pelas ventas. Foi direto à sala do diretor geral que logo solicitou a presença de Geraldo.

– Você está suspenso por sete dias. – disse sêo Ornelas impassível.

– Mas o que é que eu fiz? – perguntou cinicamente Geraldo.

– Você ainda pergunta o que fez? – perguntou sêo Chiquinho.

– Você ainda pergunta o que fez? – perguntou o diretor, quase que ao mesmo tempo que Chiquinho, e contiunuou – Tratou de forma desrespeitosa um superior seu.

– Mas eu não sabia que estava lhe faltando com respeito, seu Chiquinho!

– Imagina...

Geraldo assinou a adivertência que lhe dava sete dias de folga, ou melhor, de suspensão. Passou na área onde trabalhava para pegar sua bolsa. Teve ainda o tempo de um dedo de prosa.

– Te disse que eu ia ao carnaval, não disse? – falou Geraldo a Carminha, com um sorriso estampado no rosto.

– Como conseguiu isso, seu sem vergonha!

– Na próxima sexta, quando eu estiver de volta e com tempo, te conto.

E Geraldo saiu às pressas e se escondeu no alto das escadaria que dava assesso à fabrica. Logo chegou à porta os três: sêo Chiquinho, sêo Ornelas e sêo Valdemar.

– Aquele sem vergonha já sumiu feito fumaça; agora deve estar rindo de nossa cara... – dizia Chiquinho, mais vermelho do que nunca.

Geraldo acabou de subir a escada e lá do topo deu um forte assovio para chamar a atenção dos três. Quando notou que eles estavam vendo-o, fez-lhes uma banana e se foi dando gargalhadas.

sábado, 27 de junho de 2009

R. F. atacando de poeta romântico (morto aos 21)

Acho que Ela merece versos;

Merece!

Pois bem;

Mesmo eu não sendo um poeta,

(ou antes,

um poeta digno)

Tiro da manga versos,

Que não rimam com nada,

Que são disperssos,

E que se fossem vendidos,

Não valeria uma moeda.

Mas meus versos vêm com nobre intuito,

Sincero:

O de louvar a beleza –

Desejada por todos.

Versos saídos da manga?

Sim!

Minhas mãos saem das mangas da camisa,

Escrevem esses versos,

Que não têm outro intuito,

Senão o de louvar a beleza:

Em especial a beleza Dela!

Mas meus versos não conseguem ser belos...

Será que é essa fumaça do futuro?

Os salavancos da pós-modernidade?

O mundo a todo vapor?

Meu coração a todo vapor!

Meus olhos vêm fumaça futurística,

E por entre ela,

O sorriso inflamável que aquece as caldeiras de minhas entranhas!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Um único só dia no instante que não volta mais.
Se há Diálogo?Ruptura.
Se há Amor?Linguagem.
Um belo Bloom's day pra océis,
E que restou da modernidade?

terça-feira, 28 de abril de 2009

o que as maquinas fazem ...

moçada vale a pena conferir essas fotos modificadas ... muita loucura !
http://naldzgraphics.net/inspirations/30-most-weirdest-animal-photo-manipulation/

segunda-feira, 30 de março de 2009

Sinto o Mundo Com Meus Pés

Sinto o mundo com meus pés
Mues paralelepípedos são as montanhas
Minha poça d'água, os rios e lagos
Meus calos, um ponto de interrogação

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Confidências de um Inconfidente em Ouro Preto

Certa vez em Ouro Preto, em um bar chamado Barroco, conhecido por sua saborosa coxinha, e a melhor pinga com mel da região, ponto de encontro de ourorpetanos, estudantes, turistas e palco para situações inesperadas, de fato um pequeno manicômio na rua direita, onde seus frequentadores podem usufruir de um momento de loucura inesquecível, aconteceu um fato no mínimo... interessante.

Em uma noite de Sexta – Feira, bar lotado, muita fumaça, muito calor, muito barulho; eu e um amigo discutíamos sobre música, filosofia, mulheres; enfim, sobre tudo, como costumávamos fazer sempre quando nos encontrávamos ali.

Depois de algumas cervejas e três (ou seriam quatro) doses de pinga com mel, uma figura estranha entrou no bar. Engraçado, ele me lembrava alguém. Mas quem? Vestia calça de malha azul, camisa branca, coturno. Tinha os cabelos longos, barba feita, e o mais engraçado, andava com uma espada de madeira presa a sua cintura. Cutuquei meu amigo e disse: "Olha o cara". Rimos muito. Pessoas estranhas frequentavam o Barroco, mas igual a este sujeito nuca tínhamos visto. Olha que não era nem carnaval!

Ele entrou, todo mundo olhou, uma com mel ele solicitou, no balcão ele trepou, e logo seu discurso começou: "Oficial feio e espantado, malvado, fraco talento, pobre sem respeito, não, isto não. Mas louco; louco sim. Quem não é louco (As pessoas escutavam atentas, nunca houve tal silêncio naquele bar)? Todos os grandes homens e mulheres da história reservam o direito de serem loucos. Picasso era louco, Glauber era louco, Vinícius e Sócrates também. Claríce era louca, Maria I e Sinhá Olímpia eram também. E eu Tiradentes sou louco. Louco por liberdade e pelos meus sonhos".

As pessoas se levantaram e entre aplausos e assobios, "Tiradentes" agradeceu, pulou do balcão deu uma golada na sua pinga com mel e foi se embora.

Cutuquei meu amigo de novo e falei: "Olha o cara". E rimos muito!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Casos provincianos

A Quincas Berro D'água

Há algum tempo atrás, J. havia jurado de pés juntos e em nome de Deus, que não haveria de mover sequer uma palha novamente para ter de viver. Vou viver do que me derem, disse certa vez aos amigos que muito lhe prezavam devido ao fato dele ser um homem de palavra. E foi que J. não mais capinou sequer um metro quadrado de terreno para poder ganhar alguns trocados para comer; nem mesmo carregou sacolas de feira das respeitadas senhoras como o fazia antigamente ou engraxou os sapatos dos dignos senhores de São Deus. No começo, quando ele resolveu aderir a este novo estilo de vida, as coisas vinham dando muito certo; sempre tinha um cristão compadecido com sua figura deprimente, que preferia ficar à míngua do que ter de se matar por uma miséria. Mas com o passar do tempo as pessoas passaram não ver aquela atitude com os bons olhos que viam antes. Aquele artista em potência no início, tornou-se um vagabundo em ato. Restara a J., pois, apenas os velhos amigos que não podiam fazer muito por ele.

Então, como ele havia jurado (e não cumprir uma jura é pecado, principalmente se a jura for em nome de Deus) decidiu que, como a vida sem trabalho não vinha dando certo, seu tempo na terra havia acabado, de modo que na tarde do dia seguinte seria o seu enterro. Falou aos amigos que esta era a última vez que os incomodaria: pediu que arranjassem o velório; caixão, flores, carpideira e cachaça para que as pessoas se emocionassem mais com a sua partida. Os amigos arranjaram tudo que ele havia pedido, não sem certa relutância e tentativas de convencê-lo de que o trabalho não era de todo mal e que a vida era boa. Mas estava tudo acertado: no dia seguinte por volta das três da tarde sairia o cortejo fúnebre até o cemitério Descanso Eterno onde eles depositariam os restos ainda vivos de J.

Quando chegaram o caixão e as flores, J. foi logo dando um jeito de se aconchegar da melhor forma em seu paletó de madeira e ainda ficou dando opinião ao funcionário da funerária de como as flores deveriam ser colocadas para que o defunto ficasse mais elegante. Pediu a um dos amigos que arranjassem um cravo vermelho para dependurar na lapela. Pediu também que chamassem Manuela, sua amada, para chorar algumas gotas de lágrimas sinceras por ele. E o velório estava armado. A carpideira que chegara sem estardalhaço fazia suas rezas e chorava umas lagrimazinhas mentirosas, o que fez J. a dispensar logo de cara. Vê se um defunto tem de agüentar lágrimas forjadas, disse. E mandou que se servisse a cachaça; e foi aí que o velório começou a ficar divertido. Os amigos comovidos contavam os grandes feitos de J., que sabia ser tudo inventado, mas aceitava tais estórias, pois tornava sua vida mais heróica do que realmente era.

Por vezes um dos amigos servia uma doze especial de cachaça e dava ao defunto-vivo que a bebia com gosto. Olha gente, disse um deles, olha como defunto bebe que não faz nem careta. E todos gargalharam e mandaram servir mais uma dose para J. que já começava a ficar bêbado. O velório varou noite adentro. Certa hora, quando o silêncio já incomodava até mesmo o mais morto dos defuntos, J. sugeriu para os amigo que tocassem um samba com caixas de fósforo e a tampa do caixão. Mas tem que ser samba triste, disse, pois senão isso acaba deixando de ser um velório. Assim as horas da madrugada passaram sem que ninguém percebesse.

Pela manhã apareceu Manuela, que tentou convencer J. a não fazer o que se propunha, mas ele estava bêbado o bastante para se comover das palavras dela. Depois de derramar suas lágrimas diante do seu finado, foi tomada por seu espírito prático e começou a arrumar a bagunça, devido à animação do velório. Ajeitou as flores que atrapalhavam um pouco de ver o rosto de J. Depois, por volta da hora do almoço, foi preparar uma galinha caipira para aqueles que ainda bebiam tirar o gosto da cachaça. E todos elogiaram a galinha, e J. aproveitou para tirar um cochilo depois de comer um pouco. Dormiu até a hora em que o acordaram perguntando a que horas sairia o enterro, pois já era três da tarde. E ele disse que já podiam ir saindo, que já era hora.

Ouve um certo estardalhaço para ver quem ia carregar o caixão, o que foi resolvido quando J. disse quem ele gostaria que o levasse a sua morada eterna. Pediu que alguém levasse a tampa do caixão e o deixassem aberto, pois o calor era demais, mesmo para um defunto.

A notícia do enterro de J. se espalhou por todo povoado de São Deus; em todas as conversas só se falava disso: que ele resolvera partir dessa para uma melhor, pois não queria trabalhar para ter que comer. Muitos pensaram em como convencê-lo a não fazer isso, pois a vida é sagrada, mais do que as juras, pensavam. Mas J. continuava impassível, secando o suor com um lenço que lhe arranjaram e pensando o quanto é fatigante o velório para os defuntos, muito mais do que para aqueles que ficam.

A certa altura do cortejo apareceu o Cel. Macário; ele era o homem mais rico de São Deus e de todas as localidades que se avistava do alto do pico. O Cel. que em meio a sua opulência ouvira a história de J. foi ao seu encontro para lhe fazer uma proposta para continuar vivo. Falou com J. que se ele desistisse da empreitada lhe arranjaria todo mês um saco de arroz plantado em suas terras, até o fim natural de sua vida; e isso lavrado em cartório. J. pediu que parassem um pouco, para que ele analisasse a proposta.

Passados alguns segundos perguntou:

– Arroz com casca ou sem casca?

– Com casca, disse Cel. Macário.

Sem hesitação J. disse:

– Toca o enterro, pessoal!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


Sim!Foi ela que me domou.

Que me deixou cego e feliz diante da realidade.

Espelho da minha verdade e do meu amor. Cansada, mas resistente.

Humilde e modestamente sábia. Explica-me..., sou eu?
Sou quantos? Nenhum? Cem mil? Diga, mesmo em sonhos , a solução do mundo

Mesmo que seja apenas uma vã filosofia.