A entrevista que se segue foi concedida ao correspondente do O Provinciano Cosmopolita em LA, R. F., pelo ilustre Henry Chinaski, que não nos cobrara nada, mas pediu que trouxéssemos cigarros e vinho bebível. Como sabíamos que gostava também de whisky levamos, além do vinho e dos cigarros, uma garrafa que nos disseram ser de um whisky relativamente bom, que só mais tarde eu fui saber que aquele era na verdade um dos piores do mercado: um whisky podre, como nos disse Chinaski.
R. F.: Olá Senhor Chinaski, saudações do Brasil.
Henry Chinaski: No Brasil há pessoas que saúdam?
R. F.: Pode acreditar!
R. F.: A primeira coisa que gostaríamos de saber de você nesta entrevista é o seguinte: você acredita que a vida tem sentido?
Henry Chinaski: Na maioria das vezes não; mas quando os cavalos fazem aquilo que pedimos a vida quase faz sentido... São bons momentos dos quais parece ser feito o paraíso.
R. F.: Você acredita em uma vida paradisíaca após a morte?
Henry Chinaski: Não, e mesmo que tenha é bastante possível que seja entediante; a não ser que sintamos uma eterna sensação do cavalo em que apostamos chegando em primeiro lugar.
R. F.: Você tem medo da morte?
Henry Chinaski: Não. Acho que de certo ponto de vista será legal, ninguém para encher o seu saco; além disso, mesmo que tenha alguém você não os dará ouvidos (um gole da garrafa de whisky). Por outro lado, acho que vou sentir saudades do gosto doce de um puro whisky escorces e de umas escapadas ao hipódromo.
R. F.: O que você acredita ser necessário para se viver?
Henry Chinaski: Cavalos, bebidas e mulheres que compactuam com os dois anteriores.
R. F.: O que você pretende fazer da vida incerta?
Henry Chinaski: Pretendo fazer o que é certo: comer, dormir, foder, mijar, me vestir, andar por aí e encher o saco dos outros. Está bom, acho que assim vou preenchendo os vazios da vida.
R. F.: Se o mundo fosse acabar hoje, de que forma seria para você mais interessante?
Henry Chinaski: Inundado em whisky escorces – seria uma morte divina...
Obs.: a entrevista continuou noite adentro, mas neste momento eu estava bêbado demais para continuar anotando; de modo que ela termina aqui.
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